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Janeiro de 2020
Em 2 de janeiro de 2020, os Estados Unidos assassinaram em Bagdá o general das Forças Armadas Islâmicas Revolucionárias do Irã, Qassim Suleimani que, tendo lutado contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque, era um dos mais poderosos líderes em seu país, abaixo apenas do Aiatolá Khamenei. Como revelou o Primeiro Ministro iraquiano Abd al-Mahdi, Suleimani foi à capital do Iraque como enviado diplomático para apresentar a resposta do governo iraniano à uma proposta de de-escalar as tensões no Oriente Médio defendida pela Arábia Saudita, o inimigo irreconciliável do Irã e dos muçulmanos xiitas, supostamente a pedido de Trump.
Os revolucionários não derramam lágrimas pelo carniceiro burguês Suleimani, que, enquanto combatia o EI na Síria (para apoiar o aliado do Irã, o regime brutal de Assad) e no Iraque, para impedir que o EI entrasse no Irã (em razão da divisão entre sunitas e xiitas), também era o notório líder das forças Quds. Tais forças terrorizam ativistas defensores dos direitos humanos, dos direitos das mulheres e defensores da democracia no Irã, e ajudaram a estabelecer milícias xiitas no Iraque que organizam ataques contra os sunitas. Entretanto, o seu assassinato foi um ato de agressão imperialista e uma provocação com a intenção de forçar o Irã a retaliar e começar uma nova guerra na região.
Oficialmente, o assassinato de Suleimani foi uma retribuição pela morte de um trabalhador civil do exército americano ocorrida no fim do ano passado, e em razão de manifestações em frente à embaixada americana em Bagdá contra a presença do exército americano no país, que terminou em um ataque feito pelos manifestantes. Mas é claro que uma das razões que fez o presidente Donald Trump fazer isso foi a aproximação das eleições presidenciais e o processo de impeachment iniciado por seus oponentes do Partido Democrata. Trump percebeu que isso voltaria o jogo contra eles, que o acusaram de ser um “agente russo” e de “trair os interesses dos EUA” (por não seguir uma política suficientemente agressiva) na Ucrânia.
Trump fez ameaças de bombardear “52 locais no Irã”, incluindo locais de preservação da herança cultural, em retaliação pelos 52 reféns assassinados na embaixada americana em Teerã em 1979. Isso e o assassinato de Suleimani são mais uma na série de provocações contra o Irã, como a saída do “acordo nuclear”, a nova imposição de sanções econômicas, uma conferência contra o Irã em janeiro de 2019 em Varsóvia cujo objetivo, de acordo com o primeiro-ministro israelense Netanyahu era “preparar a guerra contra o Irã”, a colocação de bombardeiros B-52 com capacidade nuclear no Catar em maio e ataques aéreos contra milícias xiitas no Iraque na véspera do dia fatídico.
Tanto Republicanos quanto Democratas têm por décadas se preocupado em exercer o domínio dos EUA no Oriente Médio por sua riqueza em petróleo, e se comprometido com as perpétuas alianças americanas com o Estado de apartheid de Israel e a teocracia wahabista da Arábia Saudita, ambos inimigos juramentados do Irã. Enquanto Barack Obama é louvado por seu acordo de 2015 que limitou o programa nuclear do Irã. Na realidade, significou uma chantagem contra essa nação semicolonial, enquanto o imperialismo dos EUA e Israel retém um formidável arsenal nuclear, e são os que estão prontos a usá-lo primeiro.
Enquanto os revolucionários não tem nenhuma simpatia pela teocracia iraniana, está claro que não é Teerã que está desestabilizando a região. É o imperialismo dos EUA e os seus aliados que trouxeram caos ao Oriente Médio e à Ásia Central, tendo invadido o Afeganistão em 2001 e o Iraque em 2003 (que deixou mais de um milhão de mortos) e se recusando a sair de lá até hoje, bombardearam a Líbia e a Síria, e apoiaram a Arábia Saudita e sua guerra contra o Iêmen. O verdadeiro “eixo do mal” (que de acordo com o ex-presidente e notório criminoso de guerra George W. Bush é liderado pelo Irã) está na verdade em torno de Washington, Londres, Varsóvia, Riad e Telavive.
As últimas ações de Washington podem intensificar as rivalidades com os seus antigos aliados imperialistas. O primeiro-ministro Shinzo Abe do Japão adiou sua visita ao Oriente Médio. Ursula von der Leyen, da Comissão Europeia, chamou ambos os lados do conflito a “cessar de uma vez” o uso de armas, o que “abriria espaço ao diálogo”. O ministro das relações exteriores da Alemanha, Heiko Maas, enquanto condenou o contra-ataque iraniano com mísseis contra as bases americanas no Iraque na noite de 7 para 8 de janeiro, evitou uma declaração unilateral de apoio aos EUA e à OTAN (as companhias alemãs, ao contrário das americanas, têm feito muitos negócios no Irã).
Os marxistas são pela expulsão de todas as tropas imperialistas do Oriente Médio, se necessário, pela força. Em um confronto entre os Estados Unidos e seus aliados contra o Irã (ou qualquer outro país neocolonial), os trabalhadores com consciência de classe têm um lado com o segundo, e defendem seu direito de neutralizar e atacar alvos militares americanos (como o Irã acaba de fazer). Uma vitória militar americana deixaria o Irã em ruínas – como ocorreu com a Líbia e a Síria, onde qualquer luta operária parece agora impossível – e instituiria um regime mais submisso às ordens do imperialismo, impondo exploração ainda maior às massas trabalhadoras do Irã, além de fortalecer o reacionário governo de Trump em casa, facilitando a realização de ataques sobre o proletariado americano.
Entretanto, isso não significa qualquer apoio ao assassino regime teocrático dos aiatolás, que os comunistas devem ver com ódio, não atribuindo a ele nenhuma credencial “anti-imperialista” – o que seria uma mentira, dado que as forças alinhadas ao Irã se coordenaram com os criminosos ataques aéreos dos EUA durante o cerco de Mosul ou como Teerã aplicou obedientemente “reformas” de austeridade do Fundo Monetário Internacional, que gerou protestos que abalaram o Irã ao longo do último ano.
Acreditamos que as massas do Oriente Médio, lideradas pela classe trabalhadora e seus partidos comunistas revolucionários em aliança com o proletariado das metrópoles imperialistas, deveria derrubar todos os regimes burgueses da região – seja o regime autocrático de Erdogan na Turquia, o regime Baathista de Assad na Síria, a junta militar no Egito, os racistas e militaristas sionistas de Israel, a monarquia teocrática na Arábia Saudita ou a teocracia xiita do Irã – expulsar os imperialistas, e organizar uma Federação Socialista do Oriente Médio. Nos Estados Unidos e quaisquer outros países que possam querer se colocar ao seu lado em busca de um banho de sangue, como os governos lacaios da Polônia, Austrália ou Brasil, chamamos os trabalhadores a realizar greves e protestos contra a guerra, que devem ser ligados à luta para construir um partido revolucionário leninista-trotskista comprometido com a derrubada do sistema capitalista e imperialista mundial.
“Existe atualmente no Brasil um regime semifascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que lado do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil “fascista” contra a Inglaterra “democrática”. Por que? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas. A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês. É preciso não ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões por trás de qualquer máscara que eles utilizem!”
— Leon Trotsky, A Luta Anti-imperialista é a Chave para a Libertação (Uma entrevista com Mateo Fossa), setembro de 1938.