Español / English
24 de fevereiro de 2022
Abaixo a OTAN e suas provocações!
Nenhuma sanção contra a Rússia!
Não a uma ocupação russa da Ucrânia!
Pelo direito de autodeterminação das repúblicas do Donbass!
Os trabalhadores devem pôr fim à guerra pelo método da revolução socialista!
Em 24 de fevereiro, a tensão acumulada entre Rússia e Ucrânia nos últimos meses finalmente explodiu. Após a longa insistência dos Estados Unidos e de outros membros da OTAN para que a Ucrânia se unisse a essa aliança militar dos imperialistas, contra o que a Rússia repetidamente reclamou, Vladimir Putin está conduzindo uma invasão sob alegação de defender as províncias do Leste da Ucrânia, que se declararam desde 2014 como “Repúblicas Populares” independentes de Donetsk e Lugansk. Junto a isso, lançou um assalto em várias frentes sobre o território ucraniano, com a suposta intensão de “desarmar e desnazificar” o país, tendo como alvos principais depósitos de armas e baterias antiaéreas.
Os trabalhadores conscientes e os marxistas precisam ter uma posição clara para não cairmos vítimas da poderosa propaganda anti-Rússia e pró-imperialista que se produz nesse momento. Ao mesmo tempo, não pode ter nenhuma ilusão ou expectativa no reacionário que hoje está à frente do Kremlin. A Rússia não é a União Soviética, que mesmo com toda a degeneração provocada pelo stalinismo, ainda era um Estado operário até 1991. O posicionamento dos marxistas deve ser o de facilitar a revolução socialista na região, para se livrar dos inimigos dos trabalhadores e iniciar um novo capítulo da história europeia e mundial.
Euromaidan e os fascistas “pró-Ocidente”
Em 2014, o então governo ucraniano, tendo à frente Viktor Yanukovich, foi derrubado num golpe orquestrado por liberais e fascistas, que teve como um de seus palcos a Praça Maidan em Kiev, movimento que ficou conhecido como Euromaidan. Esse conflito foi causado porque Yanukovich fez um perigoso jogo duplo enquanto negociava a entrada da Ucrânia na União Europeia. No último minuto, desistiu da negociação, barganhando em vez disso algumas vantagens comerciais com a Rússia.
A ira dos setores políticos liberais pró-Ocidente, por seus interesses econômicos, e dos fascistas anti-Rússia, incitou uma frustração de massas contra o governo de Yanukovich, também envolvido em escândalos de corrupção, que levaram à eventual fuga e queda do presidente e queda do governo. Vários grupelhos fascistas e simpatizantes participaram dessa queda, realizando ações armadas. Eles usavam como símbolo o colaborador nazista durante a Segunda Guerra Mundial, Stepan Bandera. Os Estados Unidos aprovaram tais atos e o então senador Republicano John McCain foi pessoalmente visitar a ocupação da Praça Maidan e saudar os ativistas. Vergonhosamente, nessa época vários setores da esquerda que se reivindica trotskista apoiaram esse movimento direitista e pró-imperialista como se fosse algo progressivo ou mesmo uma “revolução”, como exemplo do PSTU. (Ver “5 anos da revolução ucraniana – subestimada, incompreendida e caluniada” https://www.pstu.org.br/5-anos-da-revolucao-ucraniana-subestimada-incompreendida-e-caluniada/).
Na verdade, o resultado do Euromaidan foi um produto tremendamente reacionário, uma Ucrânia para ser usada como ponta de lança e vassalo da OTAN e dos imperialistas americanos às bordas do território russo. Seguiram-se inúmeras perseguições e ataques fascistas contra membros de partidos de esquerda, comunistas e sindicatos, além de ataques a falantes de russo (que são maioria da população no Leste da Ucrânia). O uso do russo em escolas e outras instituições públicas foi banido, apesar de a Ucrânia ser um país multinacional.
Em seguida, a Rússia agiu rapidamente para tomar a Crimeia, então uma península no sul, que fora transferida à Ucrânia pela Rússia no período soviético e que contém uma importante base militar usada pela marinha russa. No Leste, contra as repetidas agressões apoiadas pelo governo da capital Kiev, iniciou-se uma guerra civil contra o poder central. Nessas regiões onde a maioria da população é de fala russa, iniciaram-se confrontos contra o governo para o estabelecimento de regiões independentes, que apresentavam simpatias com a Rússia e desejavam em grande medida confederar-se com ela. Foi essa a origem das Repúblicas de Donetsk e Lugansk, na região chamada de Donbass.
Esses territórios permaneciam parte da Ucrânia até o atual momento, apesar de seu poder efetivo ter passado para os rebeldes em parcela significativa das províncias. Eles não haviam obtido reconhecimento formal, mas vinham recebendo ajuda material russa após o cenário de destruição deixado pela guerra civil e sanções internacionais. Putin reconheceu a independência das repúblicas somente às vésperas de seu ataque, afirmando que esse reconhecimento “vem muito atrasado”, já que ele negou por todos esses anos que tivesse intenção de anexá-las.
As repetidas provocações da OTAN levaram ao conflito
O atual conflito tem sua explicação direta nas negociações para a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte, promovidas entre os líderes da organização e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Isso significaria a possibilidade da instalação de lançadores de mísseis, bases e tropas hostis à Rússia em suas fronteiras. A OTAN foi criada para a destruição da então União Soviética e seus aliados, e seguiu existindo como uma coalizão de tropas para impor interesses dos imperialistas contra nações mais fracas que não aceitassem seus ditames.
Ao contrário do que prega a mídia pró-imperialista no Ocidente, o Kremlin fez ao longo de meses várias tentativas de abrir negociações para deter essa intenção de adesão da Ucrânia à OTAN. Sem qualquer sucesso, em janeiro iniciaram-se movimentações de tropas russas para suas fronteiras, como um claro sinal de disposição de defesa e pressão para reverter a intenção. Durante todo esse tempo, não houve a menor disposição de recuo dos imperialistas ou da Ucrânia sobre essa decisão de adesão à coalizão militar.
A Rússia, malgrado seus apetites expansionistas, tem em larga medida uma motivação defensiva no atual conflito. Os países-membros da União Europeia desrespeitaram repetidamente as garantias de que a OTAN não iria se expandir rumo ao Leste, apesar das reclamações russas. A OTAN possui batalhões em cada um dos países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), na Polônia, uma brigada na Romênia, e os imperialistas estão armando pesadamente a Ucrânia e os países vizinhos que são seus aliados, enviando munições, armas e aviões de combate. A Rússia, assim como o Estado operário burocratizado chinês, está literalmente cercada de todos os lados por bases militares da OTAN.
O atual conflito é resultado, mais do que qualquer outra coisa, da política guerreira e expansionista de Biden, tanto quando era parte da administração Obama em 2014, quanto agora. Não é uma “livre escolha” nem um “direito nacional” da Ucrânia aderir à OTAN, como defendem alguns canalhas, que usam a questão da autonomia nacional para justificar a promoção de guerras e golpes no interesse dos imperialistas. Acaso a Rússia tem a escolha de ter dezenas de milhares de tropas hostis estacionadas em suas fronteiras?
Imaginem se o cenário fosse invertido e o México, por exemplo, se unisse a uma aliança militar antiamericana com a Rússia, que planejasse estacionar tropas, aviões e lançadores de mísseis em plena fronteira sul dos Estados Unidos. Imaginem o frenesi que isso não causaria entre os “democráticos” pró-imperialistas. Entretanto, quando se trata do oposto e o decadente colosso norte-americano querer fazer isso contra seus inimigos, isso é retratado como perfeitamente natural e justificável.
A Rússia é imperialista?
A Rússia pós-soviética foi se moldando entre movimentos políticos neoliberais pró-imperialistas que conduziram a “terapia de choque” da sua reintegração ao mercado mundial, destruindo as condições de vida das massas trabalhadoras, e um renovado nacionalismo russo “pan-eslavista”. Mas ela não se tornou, até o momento, uma potência imperialista global. É uma potência no Leste Europeu e na Ásia, com um poderoso legado militar e arsenal atômico do Estado soviético, destruído em 1991. Porém, a Rússia não exporta fatias de capital para exploração dos trabalhadores e recursos de outros países que sejam comparáveis aos das potências globais como EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Países Baixos, Japão. Nem mesmo de potências imperialistas secundárias, como o Canadá, Bélgica, Irlanda, Espanha e Itália. O Investimento Estrangeiro Direto (FDI em inglês) russo, ou seja, o capital exportado para a exploração de outros países e territórios, é menos de um terço do canadense e pouco mais de metade do espanhol.
Em nosso manifesto programático, nós escrevemos: “No seu sentido moderno, imperialismo é uma relação que se estabelece entre os países tão logo um deles é capaz de exportar capital (na forma de investimentos) para outro num nível significativo, com base no oligopólio (domínio de um punhado de grandes empresas) e fusão do capital industrial com o bancário, gerando o capital financeiro e moldando o Estado para tais tarefas. Mas essas características econômicas do imperialismo, que no início do século 20 eram próprias apenas das grandes potências, são hoje presentes em boa parte do mundo. Isso leva a que nações que não são potências imperialistas globais possam estabelecer relações de tipo imperialista com outras nações subalternas. […] A Rússia, embora tenha uma posição predatória com relação a alguns países do antigo bloco soviético e no Oriente Médio, não é também uma potência imperialista mundial, embora certamente seus oligarcas tenham esse desejo. É uma potência regional que, em termos relativos, está cercada e sofre pressão dos grandes imperialistas.”
A falsa caracterização da Rússia como uma potência imperialista qualitativamente comparável aos países-líderes da OTAN, feita por algumas correntes na esquerda, serve unicamente para dividir por igual a responsabilidade pela presente crise. Como marxistas, somos contra todas as sanções das potências imperialistas contra a Rússia, que tendem a recair mais pesadamente sobre o seu povo. Até o momento, os aliados imperialistas da Ucrânia não impuseram as sanções mais pesadas, que poderiam incluir tomar as divisas de cidadãos russos no exterior e impor bloqueios comerciais de importação ou exportação. Parte do cálculo de guerra de Putin foi realizar as ações no auge do inverno no Hemisfério Norte, quando muitos dos países da União Europeia estão particularmente dependentes do gás russo para o aquecimento ou geração de energia. De toda forma, todas as sanções dos imperialistas são mais armas no seu cerco contra a Rússia.
O discurso nacionalista e anticomunista de Putin e o direito de autodeterminação de Donetsk e Lugansk
A Rússia carrega uma histórica opressão nacional contra os ucranianos, que durante o Império dos czares foram mantidos sob domínio dos grãos-russos. O atrasado imperialismo russo dessa época foi destruído na revolução de outubro de 1917 e depois na guerra civil russa que se seguiu. Lenin e o Partido Bolchevique fizeram pesados esforços para destruir as cadeias de opressão nacional que o czarismo havia construído. O período do stalinismo viu um renascimento de chauvinismos contra as outras nacionalidades minoritárias da URSS, mas nunca nos mesmos níveis sombrios de antes. Ao menos, é possível dizer, as outras nacionalidades foram reconhecidas como repúblicas com seus próprios direitos e uso de suas línguas e costumes. A destruição da URSS em 1991 envenenou a região com renovadas ondas de nacionalismo e sentimentos anti-russos que são a base de muitos movimentos fascistas e direitistas em vários países do Leste Europeu atualmente.
Em seu discurso reconhecendo a independência de Donetsk e Lugansk, Putin disse que “a Ucrânia foi uma invenção da política bolchevique” e que fora um erro permitir a sua constituição como república autônoma (no interior da URSS). Fazendo referência à destruição de estátuas soviéticas na Ucrânia após 2014, ele disse: “Vocês querem descomunização? Para nós está ótimo. Não é preciso parar no meio do caminho. Estamos prontos a mostrar a vocês o que descomunização significa para a Ucrânia”. Enquanto no mesmo discurso Putin afirmava querer livrar os ucranianos de um governo fascista, ele ressuscitava elementos discursivos dignos dos czaristas e oficiais contrarrevolucionários do Exército Branco.
Essa foi apenas a mais recente de toda uma série de posturas anticomunistas que o nacionalista conservador Putin tomou ao longo de seu longo governo. Ele é um inimigo dos trabalhadores russos e de demais nacionalidades, e um serviçal dos oligarcas parasitários que se apossaram do país após a destruição da URSS. É vergonhoso que alguns na esquerda, como é o caso de vários artigos que aparecem no site do PCB, se entusiasmem com essa figura arquirreacionária, como se fosse algum tipo de representante metafísico da URSS. (ver, por exemplo, “E se Putin estiver dizendo a verdade?”, no site do PCB https://pcb.org.br/portal2/8371). As afirmações da mídia pró-imperialista de que “Putin quer a União Soviética de volta” não poderiam ser mais distantes da realidade. Suas simpatias estão mais próximas do Império dos Romanov.
Os marxistas defendem o direito de autodeterminação das nações, o direito dos povos de se tornarem independentes de um Estado se assim desejarem, como os bolcheviques de Lenin e Trotsky. É por esse motivo que também apoiamos o direito das regiões do Donbass, as autodeclaradas repúblicas de Donetsk e Lugansk, de se separar da Ucrânia e unirem-se à Rússia se assim desejarem.
Em pesquisas conduzidas em 2019 que davam vários cenários como opção, 51% dos habitantes da região apoiavam uma anexação pela Rússia, com 13.4% desejando ser parte da Rússia, mas com status especial de autonomia. Apenas 20% consideravam as regiões como parte da Ucrânia. (ver https://www.kyivpost.com/ukraine-politics/poll-half-of-people-in-occupied-donbas-want-to-join-russia.html). Depois da informação de que novos ataques ucranianos contra essas repúblicas do Donbass teriam ocorrido, algo que já vem acontecendo há anos, o parlamento russo demandou o reconhecimento delas pela Rússia, movimento planejado e depois seguido por Putin.
Porém, alertamos aos trabalhadores de que a entrada das pequenas repúblicas do Donbass na Rússia não irá resolver os males do desemprego, da pobreza, dos baixos salários e da exploração, pois estes também são vivenciados pelos trabalhadores russos. Apesar do seu direito à separação e união com a Rússia, é com o movimento dos trabalhadores russos e ucranianos que eles devem buscar contar contra as hordas fascistas e o governo ucraniano, assim como contra o reacionário Putin.
Contra uma ocupação russa da Ucrânia
Não está claro qual é o limite da intenção de Putin com os bombardeios contra várias cidades ucranianas e as investidas por terra e por mar. Talvez ele esteja apenas realizando ataques preventivos para impedir qualquer possibilidade de uma retaliação ucraniana, forçando um pedido de cessar-fogo que obrigue o governo de Zelensky a recuar do plano de adesão à OTAN. Putin se caracterizou até o momento pela extrema cautela em seus movimentos. Ele sabe que no momento conta com a vantagem e não quer dar passos mais longos que suas pernas.
Porém, é possível que a atual guerra avance até a uma derrubada do governo ucraniano, com o estabelecimento de um governo fantoche pró-russo em seu lugar, ou mesmo uma ocupação de longo prazo da Ucrânia, para além das repúblicas do Donbass.
Era o próprio movimento dos trabalhadores que deveria ter impedido os planos de adesão à OTAN, não a Rússia de Putin. Agora que invasão aconteceu, os marxistas devem se pronunciar claramente contra a ocupação pelas tropas russas. Estacionadas na Ucrânia, estas agiriam menos contra os aliados liberais e fascistas do atual governo, desde que eles se dobrassem à vontade russa, e mais contra os trabalhadores ucranianos, seus movimentos políticos organizados e seus interesses. Uma ocupação como essa, caso ocorresse, daria combustível para mais ódio nacionalista na região, afastando os trabalhadores da necessária unidade de classe, acima das divisões nacionais.
Os trabalhadores russos e ucranianos devem pôr fim a essa guerra
A atual guerra só trará mazelas e morte ao povo trabalhador da Ucrânia e das regiões fronteiriças. Como explicamos, ela é um resultado, em primeiro lugar, da política agressiva da OTAN contra a Rússia e, secundariamente, das pretensões expansionistas de Putin. Mas o método dos trabalhadores não é o do clamor pacifista inútil.
O governo ucraniano está convocando os reservistas e armando significativamente a população numa esperança de deter a investida russa. Diz que foi “abandonado” por seus aliados imperialistas. Enquanto isso é o povo trabalhador que está sendo colocado na linha de frente para morrer por uma situação que não criou. Mas tal cenário é propício para que os trabalhadores tomem seu destino em suas mãos e se livrem do governo pró-imperialista de Zelensky, voltando suas armas contra os políticos fantoches que são os culpados por criar essa guerra. Devem fazê-lo com total independência e sem confiança na figura de Putin.
Os trabalhadores russos, por sua vez, não aceitarão passivamente a condução de uma guerra prolongada. Putin espera uma vitória rápida, para evitar sanções mais duras e desgaste econômico que atinjam sua popularidade. Protestos já começam a ocorrer na Rússia contra a guerra, levando a milhares de prisões. Os trabalhadores russos devem estar contra a continuidade da guerra ou uma ocupação, e é crucial que sua luta contra Putin seja igualmente independente dos interesses e de qualquer ilusão com os falsos “democratas” ocidentais da OTAN, que anseiam ver as condições de vida dos trabalhadores de toda a Europa pioradas para o benefício de seus investimentos.
Em cada país-membro da OTAN, o movimento dos trabalhadores deve se engajar em ações que denunciem as provocações e ameaças dessa coalizão dos maiores inimigos da humanidade – os imperialistas! Para que desistam da expansão de suas forças em direção ao Leste da Europa e pela expulsão de todas as tropas imperialistas dos países na região.