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Leia também nossa declaração sobre a invasão russa à Ucrânia, causada pelo cerco dos imperialistas da OTAN: https://rr4i.milharal.org/2022/02/25/a-guerra-da-russia-contra-a-ucrania-e-o-cerco-imperialista-da-OTAN/
1. “Se lutar contra a Rússia favorece a OTAN, os trabalhadores ucranianos deveriam se deixar matar? Deveriam recusar sua autodefesa?”
Para qualquer pessoa que se reivindique ainda que vagamente como comunista, a auto-organização dos trabalhadores é um princípio. Seria absurdo dizer que os trabalhadores ucranianos devem “aceitar morrer”, como se a invasão russa significasse um extermínio completo e indiscriminado de todos. A vida real não é um jogo de tabuleiro. Há trabalhadores ucranianos apoiando a invasão russa, especialmente nas províncias do Leste, porque veem nela uma defesa dos seus interesses, seja porque acreditam nas mentiras de Putin, seja porque veem o regime de Kiev como mal maior. Há aqueles fugindo da guerra. Há aqueles que estão sendo forçados a aderir ao exército ucraniano, que está sendo usado como vassalo da OTAN para instalação de uma nova base. Há aqueles que estão aderindo voluntariamente para enfrentar a Rússia pelos mais variados motivos.
Os comunistas deveriam convocar os trabalhadores ucranianos, seus sindicatos e partidos de esquerda, a lutar primariamente contra o seu próprio governo, o que implica aproveitar a situação para se armarem, enfrentarem Zelensky e os batalhões fascistas. É evidente que eles têm o direito de defender suas vidas e seus interesses, mas isso não implica seguirem o exército pró-OTAN. Ao menos não é essa a política que os comunistas deveriam agitar.
Em vez disso, devem dizer que “o principal inimigo está em casa”, no mesmo sentido que os trabalhadores russos deveriam aproveitar para intensificar a luta contra Putin e contra uma ocupação expansionista na Ucrânia. Mas uma vitória do governo e do exército ucraniano, que está recebendo pesado apoio imperialista, e não dos trabalhadores organizados (e são coisas completamente diferentes!) será o cenário mais reacionário. Significará uma vitória da OTAN, que terá sucesso em impor maiores correntes sobre a Ucrânia, que não conseguiria ser “livre” e muito menos ter uma real “autodeterminação”, e sim se consolidaria como uma serva dos imperialistas. Também aumentaria o cerco contra a Rússia e qualquer país na região que ousasse rejeitar os ditames dos imperialistas.
2. “Mas não há uma histórica opressão da Rússia contra a Ucrânia? Os marxistas não defendem sempre a nação oprimida e defendem seu direito à autodeterminação?”
Sim, a Ucrânia sofreu historicamente uma opressão russa, durante todo o império czarista e, posteriormente durante o período stalinista, ainda que a Ucrânia tivesse reconhecida sua autonomia nacional (formalmente). Ao contrário da visão reacionária de Putin, a Ucrânia tem o direito de existir como país independente.
Porém, a situação atual não é tão simples quanto uma invasão russa oprimindo a Ucrânia. Se fosse assim, não seria nada difícil para os comunistas se posicionarem. Recentemente a Rússia entrou com tropas no Cazaquistão para esmagar uma revolta popular. Nenhum comunista sério pôde ter o mínimo de dúvida sobre repudiar esse ataque, que inclusive foi aplaudido pelos imperialistas ocidentais.
Mas na Ucrânia, apesar dos interesses russos, é inegável que a Rússia tinha uma posição defensiva e que ela foi levada a essa guerra pela pressão e ameaças da OTAN, com o plano de adesão da Ucrânia à aliança militar e de instalação de lançadores de mísseis na fronteira russa. Ou seja, a OTAN não é um mero detalhe externo nesse conflito, ela é a causa principal!
A Rússia é um país dependente, ainda que poderoso, cercado pela OTAN, e é preciso perceber que a Ucrânia está sendo usada pelos imperialistas como ponta de lança no seu plano de cercar a Rússia. Dessa forma, não se pode reduzir a questão à mera autodeterminação nacional ucraniana contra a Rússia, pois deter os imperialistas é um elemento de maior peso para os comunistas.
A vitória do exército ucraniano nesse conflito leva diretamente aos interesses imperialistas. Não à toa os EUA, França, Reino Unido e Bélgica estão enviando armas, bilhões em ajuda militar, realizando sanções contra a Rússia e fazendo uma campanha midiática feroz – querem ver a Ucrânia vitoriosa (não os seus trabalhadores ou seu povo, mas o seu governo fantoche e seu exército pró-imperialista). Os comunistas devem estar contra todos esses meios usados pelos imperialistas. A vitória das forças armadas ucranianas, enxertadas pelos imperialistas e recheadas de fascistas, não é nenhuma vitória para os trabalhadores da Ucrânia, nem de nenhum lugar. Muito pelo contrário!
3. “Qual deve então ser a política? Aceitar a invasão russa?”
A invasão da Rússia não resolve em longo prazo esse conflito, pois não elimina a pressão da OTAN e nem derrota os governos inimigos da classe trabalhadora de todos os lados. Os comunistas não chamaram por essa invasão, nem apoiam uma ocupação permanente por parte da Rússia. A questão é como acabar com a guerra no interesse dos trabalhadores, sem que isso seja uma vitória para a OTAN. Existem quatro possibilidades para levar ao fim dessa guerra.
A primeira é a vitória incontestável da Rússia, que levasse a uma ocupação ou um prolongamento na forma de guerra civil velada. Seria impedido num sentido imediato o avanço mais recente da OTAN, inclusive com a possível destruição de algumas das forças militares imperialistas. Porém, isso iria reforçar o domínio russo na região e inflar o ódio nacionalista entre os trabalhadores (e a Ucrânia é um país multinacional), além de satisfazer os apetites expansionistas de Putin.
Outra possibilidade é uma vitória do exército ucraniano apoiada pelos imperialistas, que expulse a Rússia. Nesse cenário, triunfaria a intenção da OTAN de instalar uma nova base. A Ucrânia se consolidaria como uma serviçal imperialista e estaria amarrada aos seus interesses. De forma alguma seria uma vitória da “liberdade” ou da “autodeterminação”. O ódio contra os setores russos (como nas províncias do Donbass) tenderia a aumentar exponencialmente. Aumentaria a presença imperialista no Leste Europeu.
Uma possibilidade intermediária seria um cessar-fogo em que a Rússia anexasse as províncias do Leste ou aceitasse se retirar mediante a promessa de a Ucrânia de não aderir à OTAN. Diante do impacto das sanções imperialistas contra a Rússia, esse é um cenário cada vez mais realista. Representaria um congelamento do conflito em posições similares às de antes do plano de expansão da OTAN. Mas os imperialistas não desistiriam do seu cerco e essa “saída” significaria a continuidade dos governos reacionários de Zelensky de um lado, e de Putin do outro.
A saída que os comunistas devem agitar é uma quarta. É a superação dessa guerra mediante ações internacionalistas dos trabalhadores ucranianos e russos, que tenha a perspectiva de substituir os governos burgueses por Estados operários baseados em suas organizações políticas. Tais Estados operários expulsariam definitivamente as tropas e as intenções da OTAN da região, acabariam com as esperanças dos imperialistas e incendiariam uma revolta entres os trabalhadores nos seus países; fariam também tudo ao seu alcance para deter as ações de ódio nacional de ucranianos contra russos e de russos contra ucranianos, garantindo uma existência autônoma a uma Ucrânia proletária, que poderia aderir ou não a uma federação democrática com uma Rússia proletária (como era o projeto original da União Soviética).
São muitos os soldados russos e trabalhadores ucranianos que estão sendo colocados para morrer e sofrerão as consequências num conflito que só interessa aos imperialistas da OTAN (os principais culpados por essa guerra). A quarta saída é a única solução para pôr fim à guerra que não é uma capitulação nem a Putin e à burguesia russa, e tampouco à OTAN e aos imperialistas americanos e europeus.