Outubro de 2022
Mais um ano de eleição presidencial no Brasil, um momento importante no qual toda a classe trabalhadora está conversando sobre política. Nós, enquanto revolucionários, não nos omitimos desse debate e trazemos nossa posição por meio dessa nota, que reflete posições que já defendemos em outros fóruns públicos. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que não queremos fazer apenas uma declaração de voto ou campanha para candidatos específicos. Pelo contrário, trata-se da defesa de uma proposta que tem como ponto de partida o entendimento de que o resultado do pleito deste ano não é capaz de trazer mudanças significativas para a classe trabalhadora, e que apenas a organização e a luta da nossa classe, os trabalhadores, incluindo greves e mobilizações de rua com pautas do nosso interesse, serão capazes de promover melhorias na condição de vida do nosso povo.
Vivemos em um cenário de crise política, social, sanitária e ambiental, que reforça em níveis absurdos as desigualdades já tradicionais do sistema capitalista: no Brasil, enquanto o trabalhador faz fila para comer osso, o burguês faz fila para comprar jatinho. Essa é a verdadeira polarização que vivemos, entre aqueles que vivem do próprio suor e querem dignidade para si e suas famílias e aqueles que querem acumular riquezas a custa do planeta e da maioria da população. Essa contradição, entre ricos e pobres, exploradores e explorados, não muda com o pleito, ela é parte do sistema que vivemos. Dessa forma, para sermos contra esse cenário desolador, precisamos ir contra esse sistema. Essa afirmação pode parecer óbvia, mas, infelizmente, a esquerda, vanguarda organizada da nossa classe, esqueceu, em grande parte esse ponto. O desespero de ver um boçal como Bolsonaro ocupando a presidência de uma das maiores economias do mundo, fez o menos pior parecer atrativo. Apesar disso, os revolucionários não podem fazer política com o fígado, e sim com a cabeça: precisamos entender como chegamos nesse buraco, para pensar como sair dele.
Bolsonaro é fruto de um processo de golpes que teve origem na crise econômica de 2014, passando pelo Golpe de 2016 e culminando com uma eleição fraudada em 2018, baseada em desinformação, vista grossa aos crimes de Bolsonaro e repressão aos movimentos sociais, além da prisão de Lula. Isso levou ao fortalecimento de uma direita mais agressiva e disposta a quebrar regras da institucionalidade. Os governos Temer e Bolsonaro, de fato, pioraram muito as condições de vida do trabalhador, não se pode negar isso. Porém, se a elite do país esteve e sempre estará disposta a quebrar as “regras do jogo”, a esquerda não pode se converter em defensora do “Estado de democrático de direito”, por um motivo muito básico: as instituições desse Estado não estão do nosso lado! Os militares desfilam de tanque ao lado de Bolsonaro; o Legislativo operou o Golpe de 2016 e aprovou o Teto dos Gastos que garante cortes das áreas sociais, a reforma trabalhista que precarizou tudo e a da Previdência, que tornou uma aposentadoria digna impossível a milhões. O Judiciário operou a ridícula operação Lava-Jato, uma enorme série de reformas e medidas que nos tiraram direitos, chancelaram todos os crimes contra o trabalhador, o golpe e a eleição de Bolsonaro em 2018. O que nos sobra? Pense bem: se mais de 650 mil mortos na Pandemia de COVID-19 não mobilizaram essas instituições sequer para impedir uma catástrofe, se a fome de milhões não as mobiliza, por que elas irão de mover a nosso favor após uma eleição de Lula? Você acha que as “reformas” dos últimos anos serão derrubadas pelos meios constitucionais? Que os 6 mil militares em cargos civis entregarão seus cargos sem um pio? Claro que não! Eles só farão isso se estiverem se sentindo ameaçados pela força dos trabalhadores.
Entendendo esse cenário, dizemos que o mais importante nesse momento é nos organizarmos. Somos maioria e podemos parar a produção e circulação de mercadorias. Nós fazemos esse país funcionar: essa é a nossa força! Unidos em greves e movimentos de ruas, a burguesia precisará escutar nossas demandas uma vez que seus lucros sejam afetados. Também entendemos que revoluções não são construídas do dia para noite, que precisamos avançar todo dia a nossa consciência e organização enquanto classe. Por isso, nós marxistas, acreditamos que participar desse processo eleitoral é importante para expor o socialismo e construir um programa e um partido revolucionário. Para isso, é importante que as organizações socialistas saiam de forma independente dos patrões, deixando claro que a polarização que queremos criar é entre as classes sociais: a burguesia e o proletariado. A situação do nosso país só vai mudar de verdade quando as organizações dos trabalhadores estiverem NO PODER.
Infelizmente, a imensa maioria da esquerda foi a reboque da candidatura messiânica de Lula, que pouco oferece de perspectiva de mudar o que está dado, e vai sabotar a luta e organização da classe para não assustar seus aliados. Muito pelo contrário, o petista (cujo vice é Geral do Alckmin, assassino do Pinheirinho e “ladrão de merenda” das escolas públicas) garante com toda certeza a submissão dessa candidatura a bancos, Igrejas corruptas, generais e agronegócio. Os apoiadores mais cegos de Lula o colocam como a solução para todos os problemas nacionais, como se bastasse digitar 13 nas urnas que todos os ataques que sofremos nos últimos anos fossem se desfazer como passe de mágica. Nem mesmo tentativas de golpe bolsonaristas, agora enfraquecidas, seriam detidas por essas instituições em que Lula diz para confiarmos. Ele se coligou com o que há do mais podre da elite desse país, afinal “é o único jeito de vencer”. Mas esse “jeito de vencer” prepara o próximo Temer e o próximo Bolsonaro. Até mesmo no arco de alianças de Lula podem ser encontrados candidatos a esses papéis.
Na contracorrente, PCB, Unidade Popular e o Polo Socialista Revolucionário (composto por PSTU, CST, MRT e outras organizações) lançaram candidaturas próprias, com perspectivas da classe trabalhadora e programas que reforçam essa contradição entre capital e trabalho. Nós do Reagrupamento Revolucionário, achamos correto o voto crítico nestes 3 agrupamentos nas eleições, apesar das inúmeras críticas que já fizemos a tais organizações e das diferenças de programa que temos entre nós. Porém, muito mais importante que o voto nesses partidos é rejeição ao entusiasmo iludido e delirante em torno de Lula que foi construído nessas eleições e à ideia do “mal menor”. Nós temos que estar preparados para lutar, porque Lula, seu vice, seus futuros ministros e aqueles a quem um provável governo seu vai servir, vão tentar nos manter calados e aceitando uma realidade miserável, muito longe do sonho bonito que vendem.
No espírito de luta e fraternidade entre nossa classe, ao mesmo tempo em que, sem medo ou pudor, rejeitamos o voto em Lula, mesmo em um eventual 2º turno contra Bolsonaro (votaremos nulo neste caso), chamamos todos os trabalhadores e trabalhadoras para nos somarmos em lutas, para debater uma perspectiva capaz de derrotar o bolsonarismo e a extrema-direita no interesse dos trabalhadores. Organize-se em comitês de bairro, favela, cidade; em seus sindicatos e locais de trabalho! Lutemos com paralisações, bloqueios de estradas e portos, atos de ruas e outras manifestações públicas construídas por assembleias da nossa classe. É nesse processo que em breve construiremos a revolução, nos organizando e nos preparando como trabalhadores. Dizemos isso especialmente a você que votará em Lula, pelo motivo que seja, mas reconhece a necessidade disso, de lutar, de dizer basta para os desgraçados que compram jatos e jet-skis enquanto o peão tá sem comer em casa!
- Auxílio emergencial no valor de um salário-mínimo para todos os brasileiros que hoje se encontram desempregados e necessitados. Esse auxílio pode ser facilmente financiado pelo confisco das fortunas dos bilionários!
- Pleno emprego para todos que precisam através da estatização de todas grandes empresas, sob gestão dos trabalhadores! Assim vamos evitar a destruição da indústria brasileira e coloca-la para servir ao povo trabalhador.
- Redução da jornada de trabalho para gerar mais postos e acabar com o desemprego.
- Fim da dolarização dos combustíveis e da venda de refinarias! O petróleo é do povo brasileiro!
- Controle pelos trabalhadores das exportações de alimentos para acabar com a fome. Só isso vai impedir que os donos do agronegócio vendam para fora para ganhar em dólar, enquanto o povo brasileiro passa fome.
- Reajuste imediato do salário-mínimo para compensar 2 anos de empobrecimento monstruoso e inflação sobre os trabalhadores e pobres, enquanto os grandes patrões nadam em dinheiro.
Nestas eleições, vote nas siglas 16 (Polo Socialista Revolucionário/PSTU), 21 (Partido Comunista Brasileiro) e 80 (Unidade Popular pelo Socialismo)!