Grupo Internacionalista / Liga Quarta Internacionalista do Brasil (LQB)
Programa de Transição de Trotsky ou “Bússola Política” de James Robertson?
Samuel Trachtenberg, 06 de maio de 2009
O artigo a seguir consiste em uma intervenção (reconstruída a partir de notas) feita por Samuel Trachtenberg, quando ainda era membro da então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional (IBT), durante uma palestra promovida pelo Grupo Internacionalista (IG) acerca do “Programa de Transição”, no Hunter College (Nova York) em 28 de junho de 2006.
O IG é a principal seção da Liga Pela Quarta Internacional, da qual faz parte a Liga Quarta Internacionalista do Brasil (LQB). Jan Norden, líder do IG que apresentou a palestra, dedicou um tempo significativo discutindo a Liga Espartaquista (SL – da qual o IG foi expulso) e sua explícita renúncia, em sua interpretação do “Mundo Pós-Soviético”, da afirmação do Programa de Transição segundo a qual “a crise da humanidade se reduz a crise da liderança revolucionária” [1]. S.T. direcionou sua intervenção a essa crítica. Também incluímos um adendo e extensas notas de rodapé para fins de futuras formulações e de citações históricas dos pontos levantados.
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Eu concordo com boa parte das atuais críticas do IG ao claro abandono do Programa de Transição por parte da SL. Também concordo que isso está relacionado com a extrema desmoralização da SL após o colapso da URSS. Isso foi expresso na recente posição deles acerca da luta estudantil contra a “Conferência dos Presidentes Universitários” na França [2], em relação a qual eles proclamaram que, no “Mundo Pós-Soviético”, é improvável que ocorra uma greve geral bem-sucedida. Alguns anos atrás, quando o Afeganistão foi atacado, a SL argumentou, de forma semelhante, que vitórias militares por parte de neocolônias contra os imperialistas não estava em pauta no mundo pós-soviético.
Apesar do colapso da URSS ter sido uma enorme derrota, por si só tal fato não é uma explicação adequada [para essa desmoralização]. Também é necessário olhar para a própria história da SL antes do colapso e para seus diversos zigue-zagues acerca da Questão Russa – posições por cuja elaboração a liderança do IG compartilha responsabilidade e as quais ele mantém ainda hoje, e acerca das quais vou tocar em apenas um aspecto.
Ao longo dos anos 1980, a SL desenvolveu uma forte tendência a reduzir o trotskismo à questão do Defensismo Soviético. Essa derrapada foi parcialmente reconhecida na época em que eu era um membro do Clube de Juventude Spartacus (SYC – a colateral de juventude da SL), na qual os membros eram criticados por, de alguma forma, abandonarem a visão de que eles eram o partido da revolução mundial [3]. A partir da postura de enxergar a defesa da URSS como a questão central em todos os momentos e lugares – da Nicarágua a Alice Springs, na Austrália [4] – desenvolveu-se uma tendência a enxergar o mundo através do limitado prisma de, para parafrasear uma velha piada judia, “Isso é bom para a Rússia?”.
Era frequentemente escrito e reconhecido internamente que a defesa da URSS era a “bússola política” da SL [5], que iria prevenir sua degeneração – um tipo de talismã para espantar espíritos antitrotskistas, caso queiram. Em contraste, o Programa de Transição declara que a Quarta Internacional deve “basear seu programa na lógica da luta de classes” – o que é muito diferente de usar a defesa da URSS como uma bússola política. Mas o que acontece quando você continua usando uma bússola dessas depois de ela deixar de existir? (Há dois anos, nós descobrimos que a troca de acusações internas sobre querer abandonar a defesa da URSS ainda é a norma para eles [6]). A posterior transformação em um passivo grupo propagandista ou em um grupo De Leonista que o IG descreveu, e a recente posição da SL em relação aos protestos na França novamente confirmam aonde isso leva. Mas a liderança do IG é incapaz de fazer uma análise dessas. Eles estão determinados a defender tais posições, já que eles próprios tem total responsabilidade por ajudar a desenvolvê-las, quando eram líderes da SL.
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Militantes do IG presentes no debate responderam a essa crítica com acusações de “Terceiro Campismo” e de antissovietismo. Na verdade, uma visão revisionista semelhante a que descrevemos, foi desenvolvida por Michel Pablo nos anos 1950.
Ao desenvolver suas políticas revisionistas como reação ao auge da Guerra Fria, Pablo também reduziu as críticas que recebeu a capitulações “Terceiro Campistas” ao anticomunismo. O dissidente trotskista norte-americano Sam Marcy também desenvolveu uma posição semelhante em sua teoria da “Luta de Classes Global”.
Conforme os trotskistas franceses responderam Pablo à época,
“ ‘A história de todas sociedades até hoje é a história da luta de classes’, lê-se naquela lixeira conhecida como Manifesto Comunista.
“Mas é necessário acompanhar o tempo e admitir junto a Pablo, sem hesitação, que ‘Para nosso movimento, a realidade social objetiva consiste essencialmente no regime capitalista e no Mundo Stalinista.’ [Boletim de Informação Internacional, março de 1951, “Para Onde Vamos”, p. 2]
“Enxugue as lágrimas e escute: a própria essência da realidade social é composta do regime capitalista (!) e do Mundo (?) Stalinista (!).
“Nós achávamos que a realidade social consistia na contradição entre as classes fundamentais: o proletariado e a burguesia. Claramente um erro, uma vez que agora o regime capitalista, que engloba precisamente essas duas classes, se tornou uma totalidade contraposta… ao Mundo Stalinista…
— Para onde Vai Pablo?, por Bleibtreu-Favre, junho de 1951. Disponível, em inglês, em: http://www.marxists.org/history/etol/document/fi/1950-1953/ic-issplit/04.htm
Demonstrando que ele compreende abstratamente as questões envoltas em uma visão desse tipo (ao menos quando isso não atrapalha sua própria atividade política), Jan Norden citou aprovadoramente essa passagem em “Yugoslavia, East Europe and The Fourth International: The Evolution of Pabloist Liquidationism”, publicado pela SL em 1993, adicionando que:
“O Pablismo também incorpora temas levantados pela linha de Zhadanov (…) A luta entre ‘campos’, ao invés de classes, a correlação internacional de forças desfavorável ao capitalismo: essas premissas foram compartilhadas por Pablo e Zhdanov.”
Apontei essa questão em um documento de 9 de dezembro de 1994, dois anos antes de Norden ter sido expulso da SL:
“No livreto citado acima sobre a Iugoslávia e a Quarta Internacional, Jan Norden argumenta corretamente que, enquanto era uma tarefa estratégica importante para o movimento trotskista defender a União Soviética, sua linha estratégica era revolução socialista mundial. A ideia de que a linha estratégica do movimento operário deveria ser a defesa da URSS é uma concepção pablista ou stalinista. No entanto, essa concepção implícita da divisão do mundo entre dois blocos tendeu a colorir a visão da SL durante a maior parte dos anos 1980. A partir disso, eles tiraram a conclusão, como foi colocado numa edição recente de Spartacist Canada (número 100) que o que existia era um ‘mundo bipolar – polarizado entre o mundo imperialista e o bloco soviético’. Essa polarização, entretanto, era apenas um reflexo da luta de classes global entre trabalhadores e capitalistas, e não a substituía. A SL, no entanto, começou a ver virtudes revolucionárias na burocracia stalinista. Isso se mostrou quando, por exemplo, eles se autoproclamaram a ‘Brigada Yuri Andropov’ e depois escreveram um poema para Yuri Andropov [chefe do Partido Comunista da União Soviética entre 1982-84], carrasco da revolução húngara de 1956, dizendo, entre outras coisas, que ele ‘não cometeu nenhuma traição aberta em nome do imperialismo’ (WV número 348, fevereiro de 1984).”
— Entendendo a Rússia Direito, dezembro de 1994. Disponível em: http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2011/07/carta-de-rompimento-de-sam-trachtenberg.html
Em 2008, revisitei essa questão em um debate público:
“Eu acho que a perspectiva política defendida hoje pelos camaradas da Liga Trotskista [organização irmã da SL no Canadá] é a mesma que eles tem defendido em seus jornais por muitos anos. E eu quero argumentar que ela é uma perspectiva extremamente desmoralizante e pessimista. Ela acaba caindo na argumentação de que, com o colapso da União Soviética, a assim chamada Era Pós-soviética da qual eles falam tanto, o que nós vimos não foi apenas uma enorme derrota para a classe trabalhadora, o que certamente foi, mas uma derrota tão monumental da classe trabalhadora que nenhum progresso real de qualquer tipo – seja o chamado por uma greve geral na França no ano passado, seja os levantes de trabalhadores que nós vimos na Bolívia ou no México, ou a luta pela construção de um partido revolucionário através do reagrupamento revolucionário – seria possível. Nada é possível na tal Era Pós-soviética, de acordo com eles, a não ser manterem a tradição trotskista escondidos no seu próprio bunker. Como eles falam, eles próprios desenvolveram uma ‘mentalidade de bunker’ em relação à assim chamada Era Pós-soviética.
“Então o que você faz? Bom, parece que o argumento que está sendo defendido aqui hoje é que o reagrupamento revolucionário era possível em razão da vitória da Revolução Russa. Bom, nós não temos a Revolução Russa conosco nesse momento, então o que você faz? Você espera que outra Revolução Russa ocorra. Mas adivinhem? Nós não podemos ter outra revolução nos Estados Unidos, Canadá ou em nenhum outro lugar sem um partido revolucionário. E não se pode construir um partido revolucionário escondido num bunker sustentando abstratamente a tradição em isolamento da luta de classes e do restante da esquerda.”
— Sobre Reagrupamento Revolucionário, abril de 2008. Disponível em: https://rr4i.milharal.org/2001/01/02/polemica-sobre-reagrupamento-revolucionario/
Queira o IG reconhecer isso ou não, ao igualar de forma crua a luta de classes com o Defensismo Soviético, e com a URSS não existindo mais, segue-se logicamente que a luta de classe terminou – o que soa tão sombrio à SL quanto aos Partidos Comunistas pró-Moscou.
No Programa de Transição, Trotsky defendeu que “Quando um programa ou organização se esvai, a geração que o carregou nos ombros se esvai junto. O movimento é revitalizado pelos jovens que se encontram livres de responsabilidades pelo passado”. Lenin era conhecido por brincar ao dizer que todos os revolucionários acima dos 50 deveriam ser fuzilados. Grupos como o IG, a SL e a TBI, que são dominados (quando não inteiramente compostos) por burocratas desgastados ou geriátricos já em seus 60 e poucos anos (às vezes seguidos por um pequeno grupo de obedientes assistentes escolhidos a dedo), são praticamente não-revolucionários por definição. Sua incapacidade de encarar sua “responsabilidade pelo passado” significa que eles não merecem nenhuma confiança em não repetir seus erros.
A Liga Espartaquista em seus tempos revolucionários era capaz de produzir materiais críticos acerca da história da Quarta Internacional e seus erros, como “A Gênese do Pablismo” (https://rr4i.milharal.org/2011/09/29/a-genese-do-pablismo/) porque, naquele tempo, sua liderança era majoritariamente composta de jovens camaradas que se encontravam “livres de responsabilidades pelo passado”.
Isso é algo que os militantes de base do IG deveriam levar em conta quando tentam entender porque, da Questão Russa à linha social-patriótica no Líbano e à liquidação das colaterais sindicais, a liderança do IG (e outras lideranças similares) são organicamente incapazes de reconhecer seus erros ao confrontar o passado da SL.
NOTAS
[1] “A afirmação de Trotsky no Programa de Transição, de 1938, que ‘a situação política mundial como um todo é caracterizada principalmente por uma crise histórica da direção do proletariado’ é anterior à presente profunda regressão [“pós-soviética”] da consciência proletária”. – Declaração de Princípios da ICL e alguns elementos do Programa, de fevereiro de 1998. Spartacist n. 54, primavera de 1998.
[2] “Em maio de 68, as ações dos estudantes provocaram uma greve geral dos trabalhadores de três semanas, mobilizando milhões de trabalhadores nas ruas, mas também importante no começo, em ocupações de fábricas. Foram essas greves e ocupações de fábricas que agitaram a classe dominante não só aqui na França, mas em todo o mundo. Mas, na ausência de um partido revolucionário, as greves foram desmobilizadas e traídas, principalmente pelo Partido Comunista stalinista que, graças a sua influência dentro da classe trabalhadora, em última análise, foi capaz de salvar a pele da burguesia francesa.” – Workers Vanguard, 31 de marco de 2006.
[3] “O documento para a 12ª Conferência da Ligue Trotskyste da França detectou um ‘desvio rasteiro’, onde se dizia que ‘nós somos o partido da família de defensores da União Soviética’, em vez de ‘nós somos o partido da Revolução Russa’. Essa visão – nos considerando a ala consistente da ‘família de defensores da União Soviética’ e os stalinistas como a ala inconsistente – implicitamente vira a natureza contraditória do stalinismo na outra direção …” […] “No curso dessas lutas nós afirmamos repetidamente que este levaria e de fato levou ao derrotismo sobre a classe trabalhadora em casa…”. – Documento da Segunda Conferência Internacional da Liga Comunista Internacional”. Spartacist n. 47-48, inverno de 1992-1993.
Isso refletia um desejo por parte da liderança da SL de se afastar de sua orientação stalinofílica na sequência do colapso do stalinismo. Na sequência houve uma tentativa de usar Norden como bode expiatório para essa orientação, enquanto se limpava da história as dimensões totais, posteriormente seguida por uma guinada em uma direção stalinofóbica.
[4] As seguintes citações são de um mero exame superficial de uma seleção de literatura política da SL da década de 1980, expressando como quase todas as questões mundo afora foram reduzidas à questão da defesa da URSS:
Durante a eleição de 1985 para prefeito de Nova York, a candidata da SL e atual líder IG Marjorie Stamberg colocou a questão desta forma num comício eleitoral: “Temos dito que a escalada bélica antissoviética está no centro de tudo. Que a guerra de Reagan sobre o que ele chama de ‘império do mal’ estava por trás de sua guerra contra o operariado, por trás de seu esmagamento do PATCO [aeroviários], por trás de sua guerra contra os negros em casa, por trás do ataque incendiário à sede da MOVE [grupo radical pelos direitos dos negros].” – Comício eleitorial de Sparacist: Nós somos o Partido da Revolução Russa. Workers Vanguard Nº 391, de Novembro de 1985, e reeditado em “Massacre da MOVE em Philly”, Black History n. 3, fevereiro 1986.
No mesmo comício, Ed Kartsen, concorrendo à presidência de bairro para Manhattan, explicou que “a principal ameaça à dominação capitalista da Terra continua a ser a União Soviética”, em vez de o proletariado internacional. Assim como os sindicatos, a URSS só poderia ser uma ameaça para a dominação capitalista da Terra sob a liderança revolucionária. A história do stalinismo foi uma de traição ativa da luta de classes em todo o mundo em nome de coexistência pacífica e “socialismo em um só país”. No campo internacional, países neocoloniais atacados foram igualmente vistos como “proxies” soviéticos e “substitutos”. Isso levou a IBT a afirmar em 1992, acerca do fracasso do SL para defender a URSS durante sues últimos dias em agosto de 1991, que “Ao longo dos anos, a Liga Espartaquista desenvolveu um conceito único de ‘defender’ a URSS. Eles o têm repetidamente invocado em situações em que a defesa da URSS não era o problema central. Lembram-se do slogan ‘defesa da União Soviética começa em El Salvador’?” – A defesa da URSS não começa em Warren Street, 31 de janeiro de 1992.
Quatro anos antes, uma troca entre os dois grupos ocorreu quando a IBT foi denunciada por não ver que a questão-chave na oposição aos contras imperialistas na Nicarágua seria realmente a defesa da URSS:
“A confusão da TL sobre Gorbachev é paralela com algumas noções peculiares sobre defensismo soviético. Isto é evidente no que diz respeito à Nicarágua. Enquanto grande parte do meio reformista de solidariedade nega estupidamente qualquer conexão entre os eventos que ocorrem na América Central e a revolução social que teve lugar na Rússia em 1917, a TL estridentemente insiste que a questão principal colocada na Nicarágua hoje é a defesa da União Soviética! A expressão mais cruel dessa posição singularmente idiota pode ser encontrada na edição de verão de 1988 de Spartacist Canada, editado pela mesma camarada Mestres.
“Para ‘expor’ a Tendência Bolchevique (BT), a TL cita a nossa intervenção no fórum de abril passado sobre a Nicarágua como dizendo ‘a questão-chave na Nicarágua hoje, em nosso ponto de vista não é a defesa da União Soviética, essa não é a questão central que está colocada lá hoje, mas sim defesa da Revolução Nicaraguense’. É difícil entender como qualquer trotskista poderia discordar desta afirmação duas semanas após a assinatura dos acordos de Sapoa, onde os sandinistas prometeram ‘democratizar’, de acordo com os ditames dos senhores neocoloniais da América Central e os contras mercenários de Washington. Mas para a TL esta observação simples é evidência de… shachtmanismo! Recordando como Max Shachtman recusou-se a defender a União Soviética em sua guerra com a Finlândia, em 1939, a TL conclui: ‘Para ele, em seguida, como para a BT agora, a defesa da URSS nunca foi ‘a questão central’ e, portanto, nunca será levantada onde ela conta.
“Para expiar os pecados do fundador / líder James Robertson, que trocou os stalinistas pelos shachtmanistas, assim como a Guerra Fria foi ganhando força no final de 1940, os espartaquistas decidiram que defensismo soviético é a ‘questão central’ em todos os momentos e em todos os pontos. Aqueles que não concordam são automaticamente denunciado como socialistas do Departamento de Estado. Esta caricatura da posição trotskista de defesa da União Soviética tem uma vantagem. É fácil de ensinar aos novos recrutas. Mas se a política revolucionária fosse tão simples um papagaio moderadamente inteligente poderia aprender a fórmula em questão de semanas.”
– TL sobre a questão russa: desorientada e confusa, 17 de setembro de 1988.
Na França, o grupo Lutte Ouvriere foi denunciado pelos slogans que levantou sobre o ataque dos EUA contra a Líbia nos seguintes termos: “Pela primeira vez na memória, LO marchou à frente de uma demonstração com uma bandeira que diz ‘O terrorismo das grandes potências não é menos criminoso só porque ele é feito em grande escala’ e outra que dizia ‘Contra o terrorismo de onde quer que ele venha, contrapor a unidade de todos os oprimidos do mundo’. Ao fazer isso, LO aceitou e fez a sua própria propaganda imperialista projetada para chicotear junto com a histeria belicista contra a URSS através de um de seus clientes militares, a Líbia. Outra bandeira explicou que LO se opõe à incursão assassina de Reagan em Tripoli e Benghazi porque ‘Reagan não está tentando derrubar ditadores, ele quer aterrorizar as pessoas’. Para a Casa Branca, ‘ditadores’ são todos aqueles que são amigáveis com a URSS …”. – LO e Líbia: o fedor do medo, reimpresso em Lutte Ouvriere e Spark: obrerismo e estreiteza ncional.
Em outra parte do Oriente Médio, a SL tentou cobrir seu abandono do apoio militar para aqueles que lutam contra os fuzileiros navais norte-americanos ocupando seu país perguntando cinicamente “Onde está o lado justo e anti-imperialista no Líbano hoje?” E, em seguida, explicando a condições onde eles tomariam um lado: “Se os EUA fossem à guerra contra a Síria, uma reavaliação completa seria indicada, até porque tal guerra poderia se tornar um episódio do conflito EUA x URSS, em que os marxistas defenderiam o lado soviético.” – O marxismo e sede de sangue, Workers Vanguard nº 345, 06 de janeiro de 1984.
Na Austrália, uma crise ocorreu sobre a confusão e falta de entusiasmo no grupo sobre o slogan “A defesa da URSS começa em Alice Springs”, que terminou com seis em cada sete membros australianos do Comitê Central sendo expulsos do grupo pela iniciativa zinovievista do centro de Nova York. Isso foi sobre levantar este como o slogan central em um protesto contra o Apartheid sulafricano.
Talvez o mais ridículo tenha sido a campanha da filial britânica de Jim Robertson, na Escócia, em torno de slogans “sugestivos”, tais como “Por uma república operária escocesa como parte da URSS!” e “Transformar [o lago] Holly Loch em uma marina para os U-boat soviéticos!” (Workers Hammer n. 196, primavera de 2006). Isso expressa o caráter centrado na Rússia da stalinofilia, já que slogans semelhantes não foram levantadas chamando para a incorporação da Escócia à República Popular da China, à Alemanha Oriental etc.”
[5] Uma edição especial de Spartacist dedicada a analisar a implosão da organização de Gerry Healy atribuiu retroativamente como causa da degeneração desse grupo a sua “falha” em colocar defesa da URSS no centro de cada questão (da Revolução Cultural chinesa, à Revolução Iraniana de 1979, à Guerra Irã-Iraque). Em uma entrevista com Jim Robertson acerca da ruptura da Liga Espartaquista com o Comitê Internacional, ele explica o seguinte:
“Acontece que nós temos uma profunda diferença com o WRP sobre a política. Sua defesa nominal da União Soviética é a um nível tal de abstração que, em qualquer questão concreta, eles por várias décadas tem sido contra a União Soviética, em qualquer coisa que você possa nomear. Incluindo, curiosamente, até o apoio à Revolução Cultural, que foi virulentamente antissoviética. E eles aplaudiram a execução dos comunistas no Iraque. Aí eles tiveram que se livrar da sua ligação com o Ba’ath no Iraque, a fim de apoiar o aiatolá, porque o Irã e o Iraque estavam em guerra. E posso salientar que apoiar o aiatolá também é ser antirrusso. E eles apoiam o Solidariedade, que quer uma contrarrevolução sangrenta para fazer a Polônia segura para a OTAN. Irã, Polônia, China, Afeganistão – apoiam todos os inimigos da União Soviética no perímetro da União Soviética. E isso é chamado de ‘defesa da União Soviética’!
“Então nós temos algumas coisas a dizer agora, porque nós fomos durante todo o tempo as pessoas de princípios. E gostaria de sugerir que a principal razão não é alguma moralidade do tipo americanos versus ingleses, mas que durante um longo período de tempo, por meio de muitas lutas, por meio de uma tendência após a outra, permanecemos concretamente pela defesa da União Soviética, contra o imperialismo e contra a maldita burocracia russa. Isso tem sido de fato a nossa bússola política, e também gera uma certa superestrutura cultural e uma certa moralidade.”
– Sobre a ruptura de 1966. Spartacist n. 36-37, versão de 1985-1986.
Isso foi reiterado no parágrafo final do artigo principal: “A moral para os marxistas está inseparavelmente ligada ao programa. A adesão inabalável dos espartaquistas ao trotskismo revolucionário – nossa defesa genuína, concreta da União Soviética contra o imperialismo e contra a burocracia stalinista traiçoeira, o nosso compromisso para a construção de um partido internacional da revolução proletária – esta tem sido a nossa bússola política. Disso também vem uma certa superestrutura, uma certa moralidade”. – Healyismo implode.
[6] “No entanto, ficou claro que as frustrações e antagonismos que haviam desenvolvido para com os responsáveis por tais violações organizativas e pelo giro político mais amplo que levou ao racha do PS tinham sido desviados em uma falsa luta: uma tentativa de encontrar um desvio fundamental no partido sobre a natureza do stalinismo. Foi necessário um esforço considerável para demonstrar que não houve diferenças programáticas fundamentais sobre esta questão e colocar a conferência de volta no caminho certo para lidar com os problemas reais que a ICL enfrenta. – Quarta Conferência Internacional de ICL, primavera de 2003: A luta pela continuidade revolucionária no mundo pós-soviético. Spartacist n. 58, primavera de 2004.
[7] “Lendo os relatos de tirar o fôlego do IG sobre os eventos bolivianos (reunidos em seu site sob o título grandiloquente de “Bolívia: batalhas de classe nos Andes”), seria impossível saber que nada havia mudado no mundo ao longo dos últimos 20 anos, seja na Bolívia ou em outro lugar. O IG nega a magnitude da destruição contrarrevolucionária da União Soviética e do retrocesso da consciência proletária mundial que acompanhou esta derrota.” – Bolívia: trotskismo vs. Nacionalismo burguês. Workers Vanguard n. 14, abril de 2006.
[8] “Falando de uma série de tais casos de retirada sectária nos anos seguintes a destruição da União Soviética, um camarada observou há algum tempo que o partido vinha ‘se retirando de um novo mundo alienígena, se protegendo em nosso castelo, levantando a nossa ponte levadiça e se escondendo’.” – Quinta Conferência Internacional da ICL. Mantendo um programa revolucionário no período pós-soviético. Spartacist n. 60, outono de 2007.