O teste em que Jim Robertson não passou
Originalmente impresso no boletim da Tendência Externa da “tendência Espartaquista internacional” (ET/iSt) número 4, maio de 1985. Traduzido pelo Reagrupamento Revolucionário a partir da versão disponível em inglês no site da Tendência Bolchevique Internacional.
Os sicofantas são encorajados na SL [Liga Espartaquista], não através de discursos bajuladores sobre a “genialidade” ou a “infalibilidade” de [James “Jim”] Robertson e do restante da liderança. Eles são encorajados pela promoção de uma psicologia da reverência, ocasionalmente reforçada com uma intimidação aberta. Por que alguém deve respeitar o julgamento de Nova Iorque [sede da liderança da Liga Espartaquista] até mesmo sobre o mais insignificante dos assuntos? Porque a liderança central é um repositório de grande experiência política e capacidade. Porque eles “passaram por mais testes” do que qualquer outro na organização. Porque desafiar a “autoridade” deles é equivalente a rejeitar a tradição política da qual eles são a “encarnação”, ou a falhar em entender a questão organizativa.
A liderança central (e Robertson em particular) é o guardião do programa trotskista. Ninguém mais tem o direito de ser o guardião do programa. Ninguém mais passou no teste. É meu partido, diz Robertson: e ele está certo. Eu não tenho raiva de J.R. [Jim Robertson]. Eu acho que nenhum psiquiatra no mundo pode ajudá-lo, mas eu acho que a psicologia dele é bastante transparente. Ele é um grande peixe em um aquário pequeno, uma vítima da megalomania de grupo pequeno.
A desproporção entre as tarefas da SL e os seus recursos reais ficou evidente para ele há muito tempo. O programa trotskista deve ser preservado, ele raciocinou: ele é a “última e melhor esperança” para a humanidade. E quem, em nossa época, fez mais para preservá-lo do que qualquer outro? Sem dúvida foi Jim. Ele lutou contra a liderança do SWP, ele lutou contra Wohlforth, ele lutou contra Healy, ele lutou contra o impressionismo, o revisionismo, o liquidacionismo, como ninguém. E contra todos os contras ele conseguiu construir uma tendência internacional real, ainda que frágil, que pôde preservar a herança do programa trotskista. O ponto é: essa conquista é a justificativa para a forma peculiar de burocratização que a SL adquiriu. É uma burocracia baseada não na preservação de privilégios (embora haja privilégios envolvidos); é uma burocracia baseada em uma psicologia megalomaníaca centrada ao redor da preservação do programa trotskista. Paradoxal, talvez; mas acho que este é o caso.
Mas Jim foi reprovado em um teste. Ele não construiu, e provavelmente não poderia construir, um regime interno revolucionário. O regime interno é doentio. A autoridade investida em Jim e seus associados próximos é absurda e perigosa. Não é o suficiente ter um programa formalmente correto; é necessário um partido revolucionário capaz de produzir quadros reais. Jim nunca esteve à altura desse desafio por causa da sua excessiva preocupação com a integridade programática formal e a homogeneidade política. O equilíbrio certo não foi atingido. Ele certamente nem mesmo tentou chegar ao equilíbrio que Lenin atingiu no Partido Bolchevique, que Trotsky atingiu na Quarta Internacional e que Cannon atingiu no SWP. E eu acho que o motivo é óbvio, e foi mencionado pelo próprio J.R.: no fim as organizações de Lenin, Trotsky e Cannon se degeneraram. Então coube a J.R. descobrir uma nova fórmula (um novo equilíbrio entre democracia e centralismo, entre programa e organização) que poderia assegurar, acima de tudo, a integridade do programa. Se a SL está realizando desvios programáticos agora, isso é a consequência do nosso fracasso – o fracasso daqueles dentre nós que engoliram o respeito e uma consciência aguda de nossa própria falibilidade – em dizer o que tinha de ser dito enquanto ainda éramos membros. Eu espero que a Tendência Externa tenha a coragem de faze-lo agora.
― Por um antigo membro de liderança da tendência Espartaquista internacional (iSt), janeiro de 1984. [Atualmente a iSt se chama Liga Comunista Internacional, ICL]
Apêndice: A Confissão de um Burocrata
“Quando você se senta no seu escritório administrativo é muito fácil crer que todos os seus membros são só um grande saco de merda que a liderança central está arrastando atrás de si, e que, se a liderança central cometer um erro político sério, não existem dentro da sua organização forças restauradoras.”― Discurso Público de Jim Robertson, 29 de Janeiro de 1977. Disponível (em inglês) em: