No último dia 03 de maio, o Reagrupamento Revolucionário enviou uma carta à Liga Quarta-Internacionalista do Brasil (LQB) e ao Internationalist Group dos EUA (IG) – ambos membros da Liga pela Quarta Internacional / League for the Fourth International – solicitando a correção de uma falsa acusação feita contra nós em um recente artigo da LQB, no qual afirmam que capitulamos à candidatura liberal-burguesa de Marcelo Freixo (PSOL) a prefeito do Rio de Janeiro na eleições passadas. Como a LQB / IG optou por nos ignorar, ao invés de corrigirem seu erro, publicamos tal carta para que prevaleça a verdade quanto à nossa posição. Reforçamos que não é através de calúnias que se realizará o necessário debate entre a esquerda.
Caros companheiros e companheiras da Liga Quarta Internacionalista do Brasil e do Internationalist Group,
Nós notamos recentemente uma falsa acusação ao Reagrupamento Revolucionário em uma de suas publicações, “Forjar um partido operário revolucionário leninista-trotskista! Mobilizar a força da classe operária para esmagar as “PECs do fim do mundo”!” (março de 2017, http://www.internationalist.org/esmagarpecsfimdomundo1703.html). Trata-se do seguinte trecho:
“Durante as eleições municipais cariocas no final de 2016, o PSOL lançou Marcelo Freixo. Um ardoroso defensor das UPPs para a ocupação militar-policial das favelas bem próximas da “Zona Sul” da pequena burguesia carioca. No curso de sua campanha Freixo manteve-se longe dos pobres da periferia da “Cidade Maravilhosa”. Com base na moral burguesa, este seu “programa principal” agradou a maioria da esquerda carioca como o PSTU, MOS NOS, PCB, RR e até o PT e o PCdoB, os quais em alguma medida foram a reboque da candidatura do deputado estadual RJ psolista.”.
Diferente do que afirma o artigo da LQB, nós do Reagrupamento Revolucionário (RR) não nos sentimos “agradados” pelo programa de Freixo e menos ainda fomos “a reboque” da sua candidatura. Pelo contrário, desde o princípio deixamos muito clara nossa oposição à essa candidatura, por considerá-la liberal-burguesa, e criticamos aqueles na esquerda socialista que a apoiaram, o que encaramos como um abandono da independência de classe. Em nossa declaração “Os revolucionários e as eleições burguesas” (25 de setembro de 2016, https://rr4i.milharal.org/2016/09/25/2114/), escrevemos o seguinte sobre Freixo:
“[…] nessas eleições o setor majoritário do PSOL, especialmente as correntes Unidade Socialista e MES, estão indo com tudo para assumirem o lugar deixado vago pela crise do PT. As principais candidaturas dessas correntes, bem como os “independentes” por elas referendados, nem sequer se esforçam para se passarem por porta-vozes da classe trabalhadora. O que todas elas almejam é um “governo para todos”, assim como as campanhas do PT já faziam em 1989. Isso significa governar junto à burguesia, ou ao menos seus supostos setores “progressistas”, e tentar encaminhar projetos que “humanizem” a barbárie que é o capitalismo por meio de reformas democráticas e econômicas bastante superficiais. Significa também entrar no jogo de “vale tudo” que é a política institucional burguesa, como demonstra a captação para o partido de controversas figuras sem qualquer vínculo com os movimentos sociais e suas pautas, apenas porque possuem mandatos em curso e podem, assim, fortalecer o PSOL institucionalmente.
“É claramente esse referido papel que almeja a candidatura de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, onde foi feito um pacto de “relação fraterna” e apoio mútuo em eventual segundo turno com as candidaturas do PCdoB (Jandira Feghali, ex-secretária de cultura da gestão de Eduardo Paes/PMDB entre 2008-10) e da REDE (Alessandro Molon). Pacto inclusive feito à revelia da vontade de muitos que fazem campanha para ele nas ruas. Também é o papel almejado pela candidatura de Luíza Erundina em São Paulo, que tem ampla ficha corrida de serviços prestados à burguesia, desde sua gestão como prefeita de São Paulo em 1989-93 (na qual reprimiu violentamente uma greve de rodoviários) até sua mais recente campanha, pelo burguês PSB e com ninguém menos que Michel Temer como vice (2004); passando ainda por Ministra no governo Itamar (1993) e anos como deputada federal pelo PSB (1999 a 2016, quando se juntou ao PSOL). Cabe ressaltar que, ao entrar há pouco no PSOL, Erundina não fez autocrítica alguma desse seu passado, e nem a direção do partido exigiu que ela fizesse, pintando-a agora como se sempre tivesse sido uma genuína representante dos interesses dos oprimidos.”
Em momento algum apresentamos alguma simpatia política pela candidatura de Freixo, não tendo chamado voto nela em nenhum dos dois turnos que ocorreram no Rio de Janeiro. Inicialmente, havíamos chamado por um voto crítico nas candidaturas do PSTU, PCO e MRT, encarando que expressavam, ainda que de forma distorcida, uma política de independência de classe. Todavia, como o MRT não havia ainda deixado clara a sua posição em relação a Freixo, fizemos questão de declarar que “Reiteramos que nosso apoio a essas candidaturas é condicional à manutenção da sua independência em relação aos candidatos capitalistas em geral.”. Dessa forma, quando o MRT veio à público com uma posição de voto em Freixo, menos de 48h antes da abertura das urnas no primeiro turno, publicamos um “Adendo” à essa declaração (de 4 de outubro de 2016, https://rr4i.milharal.org/2016/10/04/adendo-a-posicao-eleitoral-do-reagrupamento-revolucionario/), no qual afirmamos que:
“Anteriormente, o MRT estava fazendo certo silêncio sobre a candidatura de Freixo, embora tivesse declarado não apoiar as candidaturas do PSOL comprometidas com a burguesia. Ao defender o voto em Freixo (apesar de contraditoriamente recusar apoio à candidatura de Erundina em São Paulo), mudou também nossa postura com relação ao MRT. Essa organização se colocou a reboque de um candidato capitalista do PSOL, ainda que a candidatura de Freixo represente apenas a “sombra” da burguesia (já que nenhum grande partido burguês integrou sua campanha). Porém, Freixo já havia, inclusive, realizado um “pacto” com o PCdoB e REDE para apoio mútuo num segundo turno eleitoral.
“Consideramos a posição do MRT um oportunismo que cruza a linha de classe, e que não se diferencia qualitativamente da situação das candidaturas do PCB, MAIS, NOS, CST ou LSR, que reivindicam o classismo e o socialismo, mas vão a reboque de candidatos capitalistas do PSOL, que “não veem nenhum problema com o mercado”, como Freixo declarou durante sua campanha. Portanto, retiramos no último momento a possibilidade de voto de protesto que daríamos ao MRT. Mantivemos a posição de voto de protesto nas candidaturas proletárias do PSTU e PCO (mantendo nossas críticas às posições oportunistas de tais organizações, que já discutimos em nossa declaração).”
A essa crítica ao MRT, ainda reiteramos em tal “Adendo” a política de voto nulo no segundo turno, o que incluiu a disputa entre as candidaturas de Freixo e Marcelo Crivella no caso do Rio de Janeiro: “No segundo turno que ocorrerá em algumas das grandes cidades brasileiras, declaramos desde já nossa postura pelo voto nulo, diante da ausência de qualquer candidatura da classe trabalhadora, assim como a denúncia das várias candidaturas capitalistas que seguem concorrendo.”
Mais recentemente, em nosso artigo “A crise política brasileira e a necessidade de um programa classista e revolucionário” (fevereiro de 2017, https://rr4i.milharal.org/2017/02/16/a-crise-politica-brasileira-e-a-necessidade-de-um-programa-classista-e-revolucionario/), reiteramos nossa crítica à candidatura de Freixo e àqueles na esquerda socialista que a apoiaram:
“Foram quase inexistentes candidaturas que expressassem uma linha de independência de classe e de propaganda pelo socialismo. As exceções foram, ainda que de forma deformada, alguns candidatos do PSTU em algumas poucas cidades (mas que sequer reconheciam a ocorrência do golpe e que não achavam que a conjuntura era reacionária), e outros ainda menos importantes do PCO (que não colocou nenhuma crítica séria ao projeto petista). Ambos tiveram resultados insignificantes. Outras correntes, como MAIS e NOS, concorreram pelo PSOL com um programa classista, com candidatos a vereador. Mas em geral, se colocaram a reboque dos grandes nomes desse partido, que meramente defendem “melhorar” o capitalismo (liberais reformistas), e não questionaram em nenhum momento o programa desses candidatos e a sua adaptação aos limites impostos pela classe dominante. Tais grandes nomes do PSOL foram uma decepção sob qualquer ângulo para socialistas revolucionários. Luciana Genro disse que defenderia parcerias do público com o grande capital e modalidades de terceirização em Porto Alegre; Marcelo Freixo buscou “diálogo” com o grande empresariado do Rio de Janeiro e disse que defenderia a Lei de Responsabilidade Fiscal; Edmilson Rodrigues se coligou com vários partidos burgueses (PV, PDT, PPL) em Belém, só para enumerar alguns exemplos. Por sua vez, os candidatos do MRT/Esquerda Diário (também concorrendo a vereador pelo PSOL) defenderam uma campanha anticapitalista e tiveram resultados interessantes com alguns milhares de votos, mas na última hora também decidiram apoiar Freixo no Rio de Janeiro.
Dado que nossa posição está muito clara em nossos materiais, não há possibilidade da acusação a nós feita pela LQB ser fruto de uma má interpretação. Poderíamos crer que se tratou de um erro decorrente da ignorância sobre esses materiais – o que caracterizaria uma irresponsabilidade da LQB, por nos criticar sem antes estudar nossa posição. Mas essa acusação contra nós não é nova. À época das eleições, ela foi repetida diversas vezes por Cerezo [conhecido dirigente da LQB] em sua página de Facebook. Ao tomar ciência disso, à época nossos militantes prontamente apresentaram os materiais aqui citados e solicitaram uma correção da parte de Cerezo. Ele, todavia, não apenas não se corrigiu, como continuou reproduzindo a acusação em diversas ocasiões, o que caracteriza um claro caso de calúnia. Como o artigo da LQB que reproduz mais uma vez essa falsa acusação contra nós não é assinado, não temos como saber se é mais um ato de desonestidade da parte de Cerezo, ou se a organização como um todo abraçou essa mentira (talvez por equivocadamente confiar em Cerezo, ao invés de checar nossos materiais).
Pedimos aos companheiros e companheiras que corrigem publicamente essa falsidade, adicionando ao texto “Forjar um partido operário revolucionário leninista-trotskista! Mobilizar a força da classe operária para esmagar as “PECs do fim do mundo”!” uma nota na qual seja apresentada a verdadeira posição do Reagrupamento Revolucionário, conforme consta em nossa declaração de 25/09/16 e no adendo a ela de 04/10/16. Posição que sempre foi de oposição classista à candidatura de Freixo e de crítica dura àqueles na esquerda socialista que o apoiaram.
Saudações revolucionárias,
Marcio Torres, pelo Reagrupamento Revolucionário.
[03 de maio de 2017]