Nós do Reagrupamento Revolucionário consideramos progressivo o final da prisão em segunda instância, pois qualquer medida que aumentava os poderes da falsa Justiça dos patrões de julgar e prender, diminuindo o direito de defesa, é regressiva para os trabalhadores. Também reconhecemos que o julgamento de Lula, dentro da ótica da democracia burguesa e do chamado “Estado democrático de direito”, foi feito às pressas para impedir a sua eleição em 2018, no interesse de seus adversários políticos da direita reacionária, e assim deveria ser denunciado.
Mas dito isso, consideramos que sua soltura também reflete um momento político de recentes derrotas de Bolsonaro, em especial seu agora praticamente comprovado envolvimento no assassinato da companheira Marielle Franco. Com Lula solto, o anti-petismo volta à cena e Bolsonaro pode se colocar como a única alternativa a Lula mais uma vez. Isso facilmente pode ser transformado em uma manobra para desviar o foco da classe trabalhadora de levantar-se de forma independente do petismo, como uma oposição consistente ao bolsonarismo e ao capitalismo.
As declarações que Lula deu desde que saiu da cadeia reforçam a percepção de que sua intenção é a “polarização” entre dois campos burgueses. Lula disse que PT não será “partido de apoio” a nenhum outro projeto, que não fará autocrítica alguma e que não pretende tentar inviabilizar o governo Bolsonaro. Ao mesmo tempo, já acena para setores da direita ao sentar-se com Rodrigo Maia para discutir estratégias políticas. A classe trabalhadora precisa romper com o messianismo instaurado na figura de Lula e construir um projeto próprio para saída da crise.
O mesmo STF que permitiu a prisão em segunda instância é quem agora volta atrás nessa decisão. Esse órgão não merece tampouco nenhuma confiança ou respeito dos trabalhadores, visto que é composto por ministros não-eleitos com super-salários e que pouco ligam para os interesses de nossa classe. É possível que a soltura de Lula venha com intenções, da parte desses ministros, de ajudar a frear futuros levantes operários diante da enorme crise política que vivemos. Não foi à toa que Lula já afirmou em seu primeiro discurso que Bolsonaro foi eleito “legitimamente” e deve cumprir o mandato até o fim.
Não será nenhum “salvador da pátria” comprometido com a ordem vigente que nos tirará desse caos que a crise dos patrões colocou nosso povo. Somente nossa luta, organizada através da base, sem confiança nos medalhões da carcomida política dos ricos e poderosos, poderá produzir vitórias concretas. Façamos como nossas irmãs e irmãos no Líbano, Chile, Equador, e outros lugares do mundo, que nesse momento se organizam e fazem tremer na base os parasitas burgueses e seus capachos burocráticos!