O Reagrupamento Revolucionário participou, desde o fim de janeiro, do esforço coletivo iniciado pela Esquerda Marxista (corrente interna do PSOL) e um conjunto de outros grupos para a construção de um ato de solidariedade às manifestações ocorrendo atualmente no Peru. Veja: Encontro define ações contra o golpe no Peru e se solidariza com manifestantes. Participamos de tal construção em torno de uma posição de unidade no interesse internacionalista dos trabalhadores: a denúncia e derrota do golpe orquestrado por Dina Boluarte e pelo Congresso peruano, e da repressão que têm realizado contra os trabalhadores em luta. Importante ressaltar, porém, que não concordamos com visões de alguns grupos que, em suas falas e textos, buscaram blindar o ex-presidente golpeado, Pedro Castillo, de críticas quanto à suas intenções e condução do governo enquanto estava no poder, que divergem significativamente dos interesses da classe trabalhadora peruana, nossos irmãos. Abaixo, incluímos fotos do ato que ocorreu em 1º de fevereiro, o texto de uma Carta Aberta entregue no Consulado do Peru no Rio de Janeiro e do panfleto distribuído pelo Reagrupamento Revolucionário. Apoiamos outras ações nesse sentido, como a que está prevista para ocorrer no dia 9 de fevereiro, convocada pela CSP-Conlutas e pela Comunidade Imigrante Peruana.
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Panfleto distribuído pelo Reagrupamento Revolucionário:
Contra o golpe no Peru! Abaixo a repressão! Por uma saída dos trabalhadores!
Já são quase dois meses de manifestações diárias, com dezenas de mortos e centenas de feridos e presos no Peru. Tudo começou quando o presidente Pedro Castillo, eleito em 2021, tentou dissolver o Congresso. Foi o resultado de um ano e meio de crise permanente: Castillo é um ex-sindicalista que foi eleito com um programa de esquerda radical. Mas em minoria no congresso e, sob pressão da mídia, abandonou as promessas de campanha e continuou as medidas neoliberais dos governos anteriores. Por causa disso, ele foi expulso do próprio partido, Peru Libre. A tentativa de dissolver o Congresso foi feita com o objetivo de tomar o controle do governo. O Congresso imediatamente tirou o mandato de Castillo e ele foi preso por tentativa de golpe.
O Peru convive com uma desigualdade social aviltante, foi o país com a maior média de mortes durante a pandemia de Covid-19. A população, em especial os camponeses e indígenas do sul do país, convive com a fome e a pobreza crescente, os mineiros arriscam suas vidas enquanto o país é solapado por políticos representantes de uma burguesia que em nada se identifica com o povo peruano.
Os setores mais pobres da população, os trabalhadores e os indígenas, começaram grandes mobilizações, que colocaram o novo governo, da vice de Castillo, Dina Boluarte, contra a parede. Esses protestos exigem a liberdade de Castillo, a renúncia de Boluarte, convocação de uma Assembleia Constituinte (a constituição atual do Peru foi feita pelo ditador Fujimori) e de novas eleições.
As reivindicações do povo peruano são legítimas, como dá pra ver, mas não resolvem o que deu início à crise, e também não se delimitam da figura de Castillo, um presidente que já mostrou que não irá cumprir as reivindicações populares. Defendemos que seja posto em liberdade, mas exigir seu retorno ao poder seria desperdiçar a força do levante popular, que deve demarcar uma posição dos próprios trabalhadores e pode ir bem mais longe. Por isso, é necessária uma política dos trabalhadores contra a direita e Boluarte, mas que não se deixe instrumentalizar por Castillo. O justo movimento contra o governo de Dina Boluarte deve triunfar, e é possível dar outro rumo ao país!
É bom não esquecer que frente à crise instalada no país, os governos ‘progressistas’ latino-americanos, incluindo o governo Lula, seguiram o imperialismo estadunidense e logo reconheceram a presidenta empossada como representante ‘legítima’, o que faltou ser combinado com o povo peruano. Não bastasse felicitar Boluarte, o governo Lula colaborou com o sofrimento do povo peruano permitindo o envio de quase 30 mil bombas de efeito moral pela empresa Condor Química, sediada em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.
- Basta de mortes e abaixo a repressão policial! Liberdade aos manifestantes presos!
- Fora o Congresso golpista e Dina Boluarte, mas nenhuma confiança em Castillo!
- Assembleia constituinte para remover o entulho da antiga ditadura de Fujimori!
- Por uma posição independente de esquerda e dos trabalhadores nos movimentos populares!
Carta entregue no Consulado do Peru no Rio de Janeiro:
Sr. Cônsul Ministro Juan Antonio Prieto Sedó,
As entidades e pessoas abaixo-assinadas vêm aqui em sua presença para se solidarizar com o povo peruano e manifestar seu REPÚDIO à violenta repressão do Estado desencadeada desde dezembro de 2022.
Foram 205 pessoas presas apenas num dia na Universidade de São Marcos. Dezenas de sindicalistas presos, incluindo da central sindical CGTP e Frente de Defesa de Ayacucho. Mais de 50 pessoas mortas e 500 pessoas feridas nos confrontos com as forças de repressão, inclusive representantes dos povos originários. Só no Departamento de Puno foram 17 mortos por reivindicar novas eleições. Todos estes por participar do legítimo movimento de greves e manifestações contra o golpe de Estado que depôs e prendeu Pedro Castillo e são acusados de forma caluniosa de “terrorismo” e “vínculo com o narcotráfico”.
Exigimos o fim da repressão aos protestos e que todos os detidos sejam colocados imediatamente em liberdade. O povo peruano tem o direito legítimo de reivindicar a saída de Dina Boluarte, pedir a convocação de uma Constituinte e exigir novas eleições gerais.
Partido Comunista Brasileiro
Esquerda Marxista
Liberdade e Revolução Popular
Reagrupamento Revolucionário
Comissão de Direitos Sociais da OAB RJ
AIAM – Associação Indígena Aldeia Maracanã
Instituto dos Saberes dos Povos Originários Aldeia Jacutinga
Movimento Tamoio dos Povos Originários
Movimento Esquerda Socialista
Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro
Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro
PSTU – RJ – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
CSP-CONLUTAS RJ – Central Sindical e Popular
Unidade Classista
Associação dos Trabalhadores Aposentados, Pensionistas e Anistiados da Petrobras de Duque de Caxias
Emancipação Socialista