Vinícius Danúbio, 31 de agosto de 2020
A questão racial nos Estados Unidos efervesce novamente por esses dias, quando membros da polícia abriram fogo contra um trabalhador negro desarmado, Jacob Blake, na frente de seus filhos. O homem entrava em um carro, quando foi alvejado com vários disparos. O mundo voltou a se chocar com a brutalidade da polícia americana e a repudiar o ato. Mas não faz muito tempo que o caso de George Floyd já havia chocado o mundo também. E isso não se limita apenas aos Estados Unidos. O que não falta no Brasil, também, são casos de massacres contra a população negra periférica.
Mas, aparentemente, lá fora é “mais importante do que aqui” para a mídia burguesa nacional. Sobre o genocídio nas favelas brasileiras, muitos fazem vista grossa e outros até mesmo fazem coro com o discurso reacionário pró-polícia. Pois bem, assim como antes, pipocaram nos Estados Unidos protestos antirracistas ao redor de todo o país e, três dias após o início, houve um outro ato de racismo descarado. Não da parte da famigerada polícia, não dessa vez, não diretamente. Um adolescente branco, de 17 anos, armado com o próprio fuzil, disparou contra manifestantes, que expressavam sua revolta contra o ato horrendo que assassinara Jacob Blake, e acabou matando duas pessoas. Ele ainda foi protegido por policiais ao redor, que ainda vieram lhe oferecer um copo de água, e que em nenhum momento tomaram qualquer tipo de atitude de repreensão.
Esse adolescente faz parte do grupo de extrema-direita da sua cidade, Kenosha, que visa “proteger a vida e a propriedade”. Isso serve de lição, mais uma vez, de que a polícia deve ser destruída. Ela não serve para proteger a sociedade como um todo, como ela afirma. Muito longe disso, ela serve como um instrumento de violência contra grupos específicos para proteger a vida e a propriedade do Estado e dos capitalistas, contra revoltas dos trabalhadores e dos negros, pobres, LGBT, imigrantes, etc. A polícia surgiu como a conhecemos hoje no auge do poder político da burguesia. Concentrou todas as opressões e mazelas do sistema no seu âmago, e essa forma se espalhou pelo mundo através dos países colonizadores imperialistas. Logicamente a polícia construída por elites escravistas seria extremamente racista, refletindo sobre de onde ela veio e quem compunha seus quadros.
Hoje, quando se fala que a polícia deve ser “reformada” para ficar “livre de suas maçãs podres”, e que não se pode julgar o todo a partir da ação de alguns, é uma fala explicitamente pró-burguesa, conscientemente ou não. Todo o aparato militar governamental serve apenas para proteger e defender os privilégios, a propriedade e a vida da classe dominante (branca e rica). É dever de todos os revolucionários repudiar qualquer ato a favor de melhorias para a polícia, uma vez que melhorias nesse setor implicam melhores maneiras de oprimir a classe trabalhadora, e é dever de todo revolucionário conscientizar a classe a respeito dos atos cruéis e assassinos da polícia.
Que os próprios trabalhadores organizem suas defesas e exerçam a segurança de seus próprios membros, independente do Estado burguês. Todo apoio às lutas antirracistas espalhadas pelo mundo, que lutam por justiça e igualdade. Que se formem conselhos proletários que sejam capazes de organizar essa defesa e gerir todos os aspectos da vida e da luta. Que os socialistas no mundo se agrupem em torno desse ideal, e derrubem a burocracia, a propriedade privada e o Estado burguês. Pelo fim do capitalismo racista. Pelo socialismo!
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