Construir uma resposta à manifestação bolsonarista

Nenhuma confiança no governo do PT, que é incapaz de destruir o bolsonarismo!

Fevereiro de 2024

Acuado pelas recentes investigações que provavelmente levarão à sua prisão e de seu círculo mais íntimo, Bolsonaro e seus aliados estão chamando por manifestações em sua defesa para o fim de fevereiro. Querem com isso demonstrar força. Embora esteja num momento de defensiva, mais de 100 parlamentares, e pelos menos 3 governadores disseram que iriam à manifestação de Bolsonaro em São Paulo. Vamos encarar os fatos: é indiscutível que o bolsonarismo, como fenômeno de extrema-direita, possui imensa infiltração nas polícias, nas forças armadas, no judiciário e em vários poros do Estado, além de apoio de parte significativa da população.

Frente ao período de enormes retrocessos e ataques aos trabalhadores, indígenas, sem-terra e às classes populares, muita gente enxergou na vitória de Lula uma esperança de mudança em suas condições de vida e na realidade do país como um todo. Mas, numa conjuntura de crise capitalista de longa data e de uma vitória sustentada sobre a conciliação de classes, essa “grande mudança” não vai acontecer. E apesar de ter se passado apenas um ano, já vemos sinais disso. Se o bolsonarismo não for destruído, é uma questão de tempo até tentar outra investida histórica, seja nas eleições ou pelo golpismo.

Entretanto, o PT e as forças que apoiam seu governo estão deixando tal tarefa inteiramente a cargo do STF e da Polícia Federal. Sabemos que as Polícias e as Forças Armadas não farão uma limpa completa nos golpistas e criminosos, ou teriam suas lideranças expurgadas, pois são corrompidas até a medula. O STF, embora vise o bolsonarismo por ter se visto ameaçado, tampouco é uma força aliada dos trabalhadores, visto seus muitos julgamentos e aceitação das medidas de Bolsonaro durante seu governo.

O petismo se baseia na ideia de colaboração com essa classe dominante podre do Brasil e seus sócios imperialistas, no Estado e em confiança na Justiça. Por isso, não vai se esforçar para levar até o fim a palavra de ordem de “Sem Anistia!”. O resultado é que no máximo sofrerá punição o círculo mais íntimo de Bolsonaro. Enquanto isso, há ex-colaboradores do Bolsonarismo nos próprios ministérios do governo Lula! É por isso que, nos movimentos sociais, as entidades e partidos que apoiam o governo Lula estão jogando para debaixo do tapete a urgente tarefa de organizar fortes manifestações em resposta a essa provocação de Bolsonaro.

Para destruir o bolsonarismo de verdade, é necessário um grande movimento de luta. Criticamos os partidos e movimentos que se colocam como satélites do governismo petista em sua perspectiva legalista de confiar e depositar expectativas na Justiça. Em vez disso, chamamos pela formação de frentes únicas de luta em cada cidade, reunindo partidos de esquerda, movimentos e organizações da classe trabalhadora e dos setores populares, a começar pela construção de fortes marchas anti-bolsonaristas no mês de março, para fazer frente a qualquer tentativa do bolsonarismo levantar a cabeça.

  • Formar frentes únicas de luta dos partidos e movimentos da classe trabalhadora e do povo! Organizar manifestações anti-bolsonaristas já!
  • Nenhuma confiança no governo do PT, que concilia com os grandes capitalistas, neoliberais e tem ex-bolsonaristas até nos seus ministérios!

O QUE O GOVERNO LULA ESTÁ FAZENDO?

O Congresso Nacional está dominado por raposas que atendem aos interesses dos grandes empresários, e loteado por partidos fisiológicos ou alinhados com forças reacionárias. Enquanto a Reforma Agrária segue parada, vivemos um massacre no campo. A crise yanomami segue ceifando vidas e mineradores/latifundiários estão organizados provocando uma carnificina invisibilizada. Isso 1 ano depois da revelação do plano genocida do governo Bolsonaro de abandono dessas populações para favorecer o garimpo ilegal. O governo Lula não é capaz de oferecer políticas que mudem de maneira profunda a realidade nacional.

O Arcabouço Fiscal, aprovado sem dificuldades e capitaneado por Haddad, diminuirá muito o investimento público, depositando nas Parcerias Público Privadas o papel de desenvolvimento econômico esperado pelo governo. Enquanto anunciam o baixo índice de desemprego, fingem esquecer que Bolsonaro alterou o parâmetro para indicar os “ocupados” em geral e que, com a reforma trabalhista do governo Temer, o subemprego mal pago e de péssimas condições passou a ser a regra.

Na área da educação, o governo Lula entregou o MEC a radicais neoliberais totalmente alinhados às grandes corporações e seus braços políticos, como a Fundação Lemann e o Todos Pela Educação. Seguindo o desejo dos empresários do setor, manteve o Novo Ensino Médio, apesar de ter feito algumas mudanças. Apesar de ter aberto alguns concursos e aumentado a verba do MEC, ao longo de 2023 realizou vários cortes no orçamento original, totalizando 564 milhões, redirecionados para outras áreas, inclusive para verbas dos parasitas do “centrão”. Nas universidades públicas, tem sido sentidos os efeitos desses cortes, com falta de professores, bolsas de assistência e infraestrutura. Isso impacta diretamente na possibilidade de alunos e alunas trabalhadores conseguirem se formar, gerando grande evasão. E mesmo assim não vemos a UNE organizar mobilizações. Muito pelo contrário. Defendemos:

  • Pela revogação dos ataques nas “Reformas” trabalhista e previdenciária feitas por Temer e Bolsonaro!
  • Luta para que as entidades estudantis e sindicais sejam independentes dos governos e reitorias! Nossas entidades tem que ser instrumentos de luta contra os ataques à educação pública, de onde quer que partam!
  • Revogação total do “Novo Ensino Médio”. Contra os cortes de verbas do governo Lula no MEC! Expansão já das verbas para garantir novos concursos, auxílios estudantis e infraestrutura (bandejão, alojamento, prédios novos)!

BREVE LIÇÃO DE HISTÓRIA SOBRE OS GOVERNOS PETISTAS

Desde seu primeiro governo, Lula e o PT colocaram em prática políticas sociais pautadas aceitas pelo “mercado” (os grandes acionistas de bancos e representantes do sistema financeiro internacional). O Bolsa Família como fomento ao consumo; Prouni e FIES auxiliando enormes monopólios na educação; Minha Casa Minha Vida em parceria com construtoras e instituições financeiras; desonerações fiscais generosas para grandes empresas e empréstimos subsidiados via BNDES criando as “Campeãs Nacionais”. Essas políticas, apesar de populares, pouco mudaram a realidade de desigualdade do nosso país. Pelo contrário, mascararam um processo de acumulação gigantesco, estimularam uma visão individualista sobre o ascenso social (a famigerada “nova classe média”), enquanto cresciam as ideologias do “empreendedorismo”.

Nestes anos, o processo de cooptação promovido pelo PT destruiu a pouca independência existente nos sindicatos, sua política de atrelamento do aumento do salário-mínimo condicionado à inflação serviu para pacificar os ânimos com reajustes, embora muito abaixo do mínimo necessário para suprir as necessidades de uma família da classe trabalhadora. Essa política foi mantida pelos governos Temer e Bolsonaro. No movimento estudantil esse processo não foi diferente, com a UNE e UBES servindo como cabos eleitorais dos governos petistas, enquanto ataques promovidos contra a educação passaram sem resistência.

Quando a crise capitalista bateu na porta, especialmente no segundo governo Dilma, mesmo as medidas de reformas e concessões ficaram impraticáveis, com a crescente cobrança da classe dominante a quem o governo do PT se aliava por menos investimentos sociais e mais isenções, liberalização das condições de trabalho, retirada de direitos trabalhistas e previdenciários. Isso foi realizado mais rapidamente após o golpe de 2016, mas, já em 2015, Dilma estava comprometida com tais “ajustes” via seu então Ministro da Fazenda, o banqueiro neoliberal Joaquim Levy. O PT aceita, ainda que com alguns retruques, o consenso neoliberal de “austeridade”. Por isso nem fala mais em rever as reformas de Temer e Bolsonaro (trabalhista, previdenciária, terceirização).

Por esses e outros motivos, os trabalhadores não devem depositar qualquer esperança neste governo. Não lutar ativamente para barrar ataques e alcançar conquistas é nutrir uma ilusão que pavimentará caminho novamente para a extrema-direita numa virada próxima da história.

É preciso construir um partido que questione na raiz a precariedade do sistema capitalista, lutando contra a classe dominante que tem ódio do povo trabalhador. Ou seja, é preciso um partido revolucionário dos trabalhadores! Nós do Reagrupamento Revolucionário nos dedicamos a esse objetivo. Venha conhecer nossa organização pelo site RR4i.org

Comitês em: RJ, SP, Porto Seguro/BA, Foz do Iguaçu/PR.